quarta-feira, 6 de maio de 2015

Panteão

De repente, estávamos todos vestidos com calções demasiado justos, t-shirts fluorescentes, sapatilhas muito coloridas e de aspecto sofisticado, tudo com um ar caríssimo, eu tinha uma fita na cabeça e um relógio da era espacial com conta-quilómetros. Éramos um grupo grande, tudo gente muito gorda, mas corriam todos depressa, muito mais depressa do que eu, galgavam escadas, rampas, ruas e avenidas a uma velocidade que eu não conseguia acompanhar. Fui ficando para trás, cada vez mais para trás e cheio de dores e a faltar-me o ar e então eu parei e declarei com solenidade e com o fôlego que me restava "não quero mais correr com vocês! Quero correr com gente que seja ideologicamente estimulante e fisicamente compatível comigo!" Num instante, estava no meio de velhinhos, reconheci o Alexandre Herculano e o José Saramago e diz o Saramago "o Garrett hoje não vem que já está morto" e rimos todos muito, tudo à gargalhada. Por causa do riso senti nova pontada abaixo do diafragma, era a dor de burro, tínhamos atravessado a feira da ladra e estávamos a passar ao pé do Panteão, então eu disse "opá, corram vocês que eu fico já aqui" e diz o Herculano "que se lixe, ficamos todos".

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