terça-feira, 17 de março de 2015

Team building

Ia a sair de casa com a Lolis Regina e pensei, como penso todos os dias à mesma hora na execução do mesmo ritual, "ora... cão, casaco, sapatos... ah não me posso esquecer da chave". Enrolei um saquinho, enfiei-o no bolso de trás e pus os óculos de sol - pela manhã e mesmo que não haja sol não consigo suportar este excesso de luz, assim de repente e todo de uma vez - mas os óculos estavam embaciados. Tirei-os, limpei-os, voltei a pô-los, mandei a cadela sair e sentar-se, já com a trela posta, e fechei a porta. Foi então que um tonitruante "foda-se!" ressoou na minha cabeça. Sem carteira nem telefone - o meu plano era simples: passear o animal durante três minutos, o suficiente para que se aliviasse, e a seguir regressar a casa, dar-lhe de comer e tomar eu próprio o pequeno-almoço (um plano que não exige mais do que uma par de sapatilhas, um casaco, uns óculos de sol e as tais chaves de casa, para além da cachorra, que é um elemento fundamental) -, vi-me reduzido à condição de pessoa temporariamente sem-abrigo. As duas horas seguintes foram vividas em espera, deambulando pela Feira da Ladra e creio que os laços que existiam entre mim e a Lolita se estreitaram - depois de duas horas de fome e sem tecto, temos agora uma relação mais forte.

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