quinta-feira, 23 de abril de 2015

Não morde

Ali ao pé do Mosteiro de São Vicente, passa um carocho por mim - daqueles de 50 anos que sobreviveram, em grande forma, a mais de três décadas de cavalo intravenoso e que, entretanto, descobriram o milagre da metadona e alternativas alucinogénicas menos destrutivas -, arnettes sem lentes na ponta da testa, headphones e começa a chamar a Lolis Regina. Ela, dada como só uma cadela cheia de amor para distribuir, acede ao chamamento e começa a puxar na direcção do homem, a abanar efusivamente o couto que lhe sobra de uma cauda outrora garbosa - e que ela própria tratou de destruir. Puxei a trela e mandei-a ficar e o homem "o que é que foi? Morde?" e eu a pensar "quem me dera" e a responder, fanfarrão e canastrão, "só morde quando calha". Continuámos, não lhe perguntei se acreditava em mim ou não, não me interessa. Não admito que, na rua, do nada, me chamem a cadela, como se eu não existisse, se eu não estivesse ali e ela fosse um objecto à disposição do público, pronta a obedecer a qualquer transeunte que lhe ache graça.

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