domingo, 15 de fevereiro de 2015

Jantar de São Valentim

O Manuel Cruz escreveu "o amor dá-me tesão". A mim, dá-me fome normalmente. Quando era mais novo perdia o apetite por causa dos nervos e do entusiasmo e, no fim, dava por mim esfomeado. Ontem foi por causa do picante. Fomos ao goês da Rua do Zaire. Agora o Zaire chama-se Congo e quando passo naquela rua lembro-me sempre do coro dos Irmãos Catita na Lourenço Marques, daquele cândido "hoje é Maputo". Mandámos vir dois menus São Valentim porque fomos com outro casal, são nossos amigos. Saía mais barato, pareceu-me um bom plano. Até às entradas estava tudo bem. Mas depois a comida a sério estava brava, até ardia na língua. Era um arroz não sei quê, primeiro. Toda a gente adorou, eu não achei grande piada. Entretanto, íamos vendo o resultado do Sporting e estava sempre zero a zero. Já toda a gente tinha acabado o arroz, menos eu. O senhor queria levantar os pratos e trazer o resto das travessas - o menu tinha muita coisa - e continuava eu a comer com o meu vagar. Gosto de levar o meu tempo. E nisto, é golo do Belenenses e eu, naturalmente, pouso o talher e faço assim aquela ginga dançante de quem fica muito contente com qualquer coisa, como se tivesse atingido um objectivo na vida com uma pontinha de sorte. O senhor que ia levantar os pratos diz "quando você acabar, já o Sporting está a ganhar" e eu pensei para mim "conto acabar ainda esta semana" mas não disse ou então disse só às pessoas da minha mesa. Depois veio qualquer coisa vindalho e eu sempre tinha visto nos outros indianos "vindal hoo" e pensei que era assim que se dizia: vindal - hu. Mas não, afinal diz-se mesmo "vindalho", é uma corruptela de "vinha d'alhos". Primeiro fiquei desapontado com o nome, que perdeu toda a magia e se tornou rude; a seguir, fiquei desconsolado com o prato propriamente dito, que também não me soube a grande coisa.

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